Carta aberta à Netflix - Um apelo à razão.


Prezada Netflix,

Soube que o "documentário" Heal - O Poder da Mente está programado para estrear na Netflix em 1º de fevereiro. Pelo que vi do trailer, informações no site oficial do documentário e avaliações de vários críticos, trata-se de uma produção baseada em teorias de conspiração e pseudociência, promovendo algo equivalente a curandeirismo.

Embora eu defenda a liberdade de expressão, não vejo justificativa para a Netflix disponibilizar algo que promove desinformação e é prejudicial à saúde e à vida de indivíduos e da população em geral.

Entre verdades, falsidades e declarações vagas e/ou absurdas ("poder da possibilidade infinita", "a crença em si altera a biologia"), o trailer do documentário declara que pessoas que se recuperaram de câncer em estágios avançados assumem todas as nove atitudes abaixo, duas delas físicas, as demais seriam mentais, emocionais ou espirituais:


  • Mudança radical de dieta
  • Assumir o controle de sua saúde
  • Seguir sua intuição
  • Usar plantas medicinais e suplementos
  • Liberar emoções reprimidas
  • Aumentar emoções positivas
  • Adotar apoio social
  • Intensificar sua conexão espiritual
  • Ter um forte motivo para viver
Não duvido nem questiono que algumas das atitudes acima sejam positivas, mas afirmar (ainda que indiretamente) que as mesmas curam câncer é criminoso.

Medicinas alternativas, cura pela fé, toque terapêutico, vitalismo e outras práticas (iguais ou similares às presentes no documentário) são consideradas pseudociência por não terem eficiência comprovada com base científica, e/ou por serem cientificamente comprovadas como ineficientes.

Já que as promessas das medicinas alternativas ou pseudomedicinas são muito atraentes (como garantia de curas rápidas e milagrosas, sem efeitos colaterais e sem riscos), conseguem ludibriar muitos a abandonar terapias tradicionais eficientes.

Este é um problema grave e crescente. Conheço quem recentemente perdeu uma irmã que tratava sua diabetes apenas com Reiki. Houve repercussão nacional de outros casos de abandono de terapias tradicionais. Pacientes com câncer trocam cirurgias e quimioterapia por terapias alternativas, embora o uso exclusivo de tratamentos alternativos aumente o risco de morte segundo pesquisas (em alguns casos, aumentando em até 6 vezes o risco de morte). Ao ver esse tipo de terapia sendo integrada ao SUS, concordo quando Drauzio Varella diz que parece que estamos andando para trás.

Acho imoral alguém lucrar com qualquer tipo de desinformação, ainda mais ao vender falsas esperanças, aumentando e se aproveitando do sofrimento de pessoas em situação de risco e fragilizadas. Os criadores do "documentário" lucram indiretamente com a promoção de suas imagens como "gurus", e diretamente com a venda de livros, DVDs e streaming, entre outros.

Vivemos numa era onde mentiras e desinformação alcançam níveis tão preocupantes que diversas ações concretas vêm sendo tomadas:
Muitas pessoas acreditam em quaisquer boatos disseminados pelos inúmeros canais da Internet, e graças ao grande alcance e maior credibilidade da Netflix, o impacto de teorias de conspiração em seu serviço podem ser muito mais perniciosos e com consequências mais graves.

A Netflix não pode simplesmente fechar os olhos e lavar as mãos de sua responsabilidade. Ao contrário, como uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, e pelo respeito que ela tem com seus clientes, acredito que tomará a atitude correta, moral e em acordo com a responsabilidade que as demais empresas do setor vêm demonstrando. E claro, seria o coerente de quem produziu "Ligue o desconfiômetro", segundo episódio da série Bill Nye Saves the World (que eu recomendo a todos assistir), onde "Bill e seu grupo de especialistas desmistificam falsas medicinas alternativas".

Pelos motivos citados acima, solicito que não disponibilizem tal documentário em seu catálogo.

Agradeço por sua atenção.

Ricardo Mendonça Ferreira.


P.S.: Há alguns dias entrei em contato com a Netflix pelo seu suporte, mídias sociais e canais de contato com a imprensa, mas até o momento desta publicação não tive nenhuma resposta. Caso eu receba alguma, atualizarei este artigo e/ou publicarei outro a respeito.

P.P.S.: recomendo a resenha "Heal" na Netflix: crueldade disfarçada de autoajuda, feita pelo jornalista Carlos Orsi, no Questão de Ciência. Se eu fosse escrever uma resenha, seria muito parecida.

40 comentários:

  1. Eu estava achando tudo frescura, mas seus argumentos aqui me convenceram:
    "Acho imoral alguém lucrar com qualquer tipo de desinformação, ainda mais ao vender falsas esperanças"
    Correto.
    E vamos deixar bem claro, não apenas os produtores estão lucrado. A Netflix, passando esse "documentario", vai lucrar diretamente.

    ResponderExcluir
  2. A Netflix também incluiu recentemente um "documentário" chamado A Raiz do Problema (Root Cause) que se encaixa nos mesmos argumentos apresentados contra o Heal.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esse eu não vi, mas há também What the Health e certamente outros "documentários" que nos revelam tudo o que "eles" não querem que venha à tona...

      Excluir
  3. Vc esta recebendo alguns trocados da industria farmacêutica e alimenticia Ricardo? Não vejo o pq as pessoas não poderem ter acesso a conteúdos que oferecam alternativas a própria saúde! Não ser racional é se entregar de corpo e alma a mafia médica, isso sim! Acorda garoto. Eu se tiver câncer, jamais vou esperar apenas por quimioterapia degenerativa. Vou atrás justamente do senso comum para ter um suporte para minha saúde. E os documentarios da netflix em questão, apenas sintetizam tais conhecimentos populares. Lembrando que a ciência nasceu do senso comum.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato pelos comentários.

      Não recebi nada de ninguém para escrever este artigo, exceto apoio de familiares que concordam com os perigos que citei.

      As terapias tradicionais para combater o câncer (quimioterapia, radioterapia) são horríveis e terríveis, para mente e para o corpo, e nem sempre funcionam. Por outro lado, a medicina "alternativa" não funciona (pois, se funcionasse, não seria "alternativa").

      Acho que cada um deveria ser capaz de entender e optar pelo tratamento que achar melhor, mas isto só é possível quando se recebe informações verdadeiras. As informações desse tipo de documentário misturam fatos com ficção com o objetivo de ludibriar as pessoas a fim de obter lucro com suas doenças. Se você acha que a "indústria farmacêutica e alimentícia" tem alguma conspiração contra o público, eu acredito que as bilionárias indústrias de medicina alternativa e autoajuda, muito mais antigas, exercitam um poder muito mais maligno sobre muito mais pessoas, causando muito mais prejuízos.

      Excluir
    2. O documentário que vc está tentando atrapalhar que eu assista na netflix (duvido muito que a netflix vai ceder a sua birra) sintetiza todo o conhecimento empírico, que por sinal este é o pai da medicina moderna. O conteúdo é supercoerente e segundo o trailer não dispensa qualquer tratamento da industria da doença, medicina convencional (infelizmente). Tal documentário está em plena harmonia com a medicina ayurvedica, medicina essa que é a primeira da humanidade, remonta a até 12 mil anos pelos povos que hj conhecemos como indianos! No documentario Heal fala-se do nosso curandeiro interno, aquele que nos liga novamente com a natureza através da mente e bons hábitos de saude em nosso cotidiano. Não tem nada de charlatanismo. Estude antes a base da coisa toda pra não tirar conclusões precipitadas. Aliás, achei que esse site fosse imparcial com relação ao conteudo da netflix. E não acho que a empresa em questão vai gostar de saber que vc usa a marca dela aqui pra atrapalha-la.

      Excluir
    3. O fato de uma proposição ser antiga não significa que a mesma seja verdadeira. O geocentrismo é o mais antigo modelo cosmológico, e nem por isso correto.

      Não questionei em nenhum momento que o contato com a natureza e outros hábitos citados no documentário não sejam bons. Pelo contrário, eu mesmo tento seguir algumas dessas práticas. Porém, apenas isso não cura câncer. "Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível" é sim charlatanismo, video artigo 283 do Código Penal Brasileiro.

      Sempre procurei ser imparcial quanto ao conteúdo da Netflix. Esta foi a primeira (e até agora, única) exceção.

      Excluir
    4. Nem tudo que se afasta da proposta mercadológica da indústria médica e farmacêutica é bom apenas por esse fator. A alimentação paleo e low carb, por exemplo, contraria bastante o que boa parte da indústria alimentícia, farmacêutica e médica dita, mas é baseada em ciência de verdade, com resultados científicos comprovados.
      O que esse documentário mostra, no entanto, não tem comprovação factual. Não é que as pessoas devam crer cegamente na medicina tradicional. Ninguém deve crer cegamente em absolutamente nada. Mas muitas vezes, o apelo emocional e sensacionalista dessas ditas "novas propostas" ou "retorno às raízes" acabam sendo muito mais prejudiciais e contraproducentes do que verdadeiramente benéficas.

      Excluir
    5. Geocentrismo é hipótese! A medicina das culturas antigas são baseadas em observação e experimentação, podemos dizer que se encaixam perfeitamente no que conhecemos hj como o método científico! Estude antes sobre as práticas medicinais principalmente dos antigos indianos, pois muitos é a medicina exercida até hj na Índia e base para toda a medicina ocidental.

      Excluir
  4. Parabéns pelo artigo. Mesmo que a Netflix não se manifeste, temos o dever de combater a desinformação que, neste caso, chega realmente a ser criminosa.

    ResponderExcluir
  5. Ricardo, parabéns pela iniciativa. Seu texto ficou excelente, e direto ao ponto. Infelizmente, "documentários" como esse existem aos montes.

    ResponderExcluir
  6. Sim, "pseudociência" é uma palavra bonita e impactante, muito utilizada por pseudointelectuais ou "pseudointeligentes".

    Mas se você baseia sua vida apenas no que a ciência pode explicar, deve ir morar em uma caverna. Existem muitos fenômenos da física quântica que a ciência não consegue explicar, mas são utilizados nas tecnologias modernas.

    Ademais achar que os assinantes da Netflix são tão facilmente manipuláveis é no mínimo subjugar a inteligência de todos nós. Facebook, Youtube, etc são sites de conteúdo aberto. É totalmente diferente.

    Não, seu pedido não faz sentido. As pessoas que decidam se querem assistir ou não. Simples assim, como deve ser.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O que proclama ser verdadeiramente científico sem seguir a metodologia científica é pseudociência. Infelizmente o termo foi muito abusado e carrega consigo conotação pejorativa, o que causa reações emocionais fortes em quem se vê "acusado" de seguir essa prática ou quem o faz. Certamente não era esse o objetivo. Eu sabia que corria esse risco, mas o uso do termo está correto.

      Nunca disse que a ciência explica tudo. Porém, ela consegue demonstrar que algumas hipóteses ou afirmações são falsas.

      Sim, pessoas são manipuláveis. Se não fossem, não precisaria existir uma lei para protegê-las contra o charlatanismo, não concorda?

      E não importa em qual canal a pessoa viu um conteúdo, a informação não vai ser diferente por causa disso. O fato da Netflix ser um serviço pago não muda nada. Não lembro ter visto na Netflix nenhum título promovendo racismo ou homofobia, por exemplo, o que significa que ela certamente já seleciona o que disponibiliza em seu catálogo. Questiono apenas se não seria o caso de melhorar esses critérios de seleção.

      Eu adoraria que todos pudessem assistir a esse tipo de conteúdo com pensamento crítico. Infelizmente muitas não o tem ou não o exercitam, o que lhes causa todo tipo de prejuízo (vide links no artigo).

      Não se preocupe, duvido muito que a Netflix atenda meu pedido...

      Excluir
    2. A Lei não protege ninguém contra o charlatanismo. A lei pune os charlatões. O oque é completamente diferente de proteger eles "de forma antecipada". Uma pessoa inclinada a cair em um golpe vai cair independente de existir lei ou não.


      Youtube, Facebok, etc fazem oque seus anunciantes pedem. São eles que sustentam estas plataformas. Você realmente acha que eles estariam preocupados com o conteúdo, se não houvesse pressão dos anunciantes para não associar seus produtos a eles? Então eles pegam um tema absurdo como a teoria da terra plana e usam como exemplo de conteúdo a ser combatido. É uma tática de guerrilha. Eles pegaram um ponto fraco, que beira o ridículo (como a teoria da terra plana) para incluir nas justificativas de conteúdo a ser combatido, mas no meio certamente existem outros conteúdos que podem ser úteis às pessoas.

      E a exploração infantil? Conteúdo sexual disfarçado de outros fins? Porque o Youtube não combate? Os casos onde os vídeos foram removidos foram por ordem judicial de fora, não por iniciativa deles. Procure por vídeos de mães amamentando no Youtube, ou crianças fazendo ginástica, mostrando seu dia, a dia, etc. Isto sim tem que ser combatido.

      Mas enfim, a última coisa que eu esperava fazer neste espaço seria falar sobre estes assuntos. Minha participação termina aqui...

      Excluir
    3. Sobre a Física Quântica, é bem o contrário: ela fornece respostas ao que a Física Clássica não conseguiria demonstrar de forma concreta.

      Excluir
  7. "afirmar (ainda que indiretamente) que as mesmas curam câncer é criminoso."

    Esse é o problema, se o documentário realmente afirma isso é muito errado.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Infelizmente é o que o trailer e diversas avaliações de críticos afirmam. Ao ver isso, eu não poderia deixar de publicar minha opinião...

      Excluir
  8. São cinco as formas de conhecimento (senso comum, religião, arte, filosofia e ciência). As Ciências é a "mais nova" delas... Privar o humano de qualquer uma delas é mante-los na ignorância.

    Pode ser válido quando você diz que algumas pessoas não vão saber trabalhar as informações tratada em vídeo. Porém, esse não entendimento está ligado a privação dos saberes.

    Não é desinformar, é querer ampliar as teses e construir novos pragmatismos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Alguns dos seus exemplos de "conhecimento" na verdade são "crenças", que podem ou não ser verdadeiras. Crenças falsas podem ser muito piores do que a ignorância.

      "Não saber trabalhar as informações" não está relacionado apenas a "privação de saber", mas ao desenvolvimento do pensamento crítico. Essa é uma habilidade fundamental que, infelizmente, parece ser raramente ensinada (ou aprendida), principalmente por aqui...

      Desinformar é induzir a erro ou dar uma falsa imagem da realidade. Pelo que observei, é o que faz este documentário.

      Excluir
    2. Todas essas são formas de conhecimento! A única variável, entre elas, é a Filosofia. Alguns estudiosos não consideram forma de conhecimento, até mesmo por não ser uma ciência.

      Excluir
  9. Meu caro amigo Ricardo, fico grato por ter escrito este texto, pois o que vou colocar aqui, embora venha de certa maneira se opor às suas críticas, se torna uma oportunidade para tentar colocar um contra-ponto relevante e pode equilibrar o radicalismo de alguns que também discordam.

    Bem, eu venho estudando espiritismo já faz um bom tempo e já li sobre inúmeros casos de cura através da fé, do auto-conhecimento, da expansão da consciência e outros meios considerados esotérico ou alternativos.
    Dentre um extremo e outro, a medicina tradicional e a medicina digamos, espiritual, há um consenso de que ambos são fundamentais para se buscar uma cura, dos mais variados graus de complexidade.

    Sou testemunha inclusive de casos de cura que foram abordados desta maneira, utilizando-se do tratamento convencional auxiliado pelo tratamento espiritual. Ví com meus próprios olhos, presenciei mesmo.

    Me convenci de que somos matéria e alma, corpo e espírito e a mente humana realmente é capaz de coisas incríveis quando direcionada e estimulada para alcançar determinados objetivos.

    O problema é que há um grande ceticismo ainda que impede a expansão das teorias e práticas que estimulam este conhecimento, este poder que é inerente do ser humano e não é preciso ser um monge ou um grande médium pra que verdadeiros milagres aconteçam. E sempre reforçando aqui que uma coisa não suprime a outra, ao contrário, muitos tratamentos poderiam ser intensificados e muitas curas alcançadas mais depressa se a medicina tradicional e a medicina espiritual trabalhassem em conjunto.

    Por fim, no meu entendimento, se esta série ou programa que a Netflix pretende lançar, guiar o espectador no sentido de que esses conhecimentos possam potencializar suas chances de cura em paralelo com os métodos tradicionais, ponto pra eles, pois acho sim que o ser humano precisa parar de achar que os antigos são apenas místicos do passado e que nada tem a acrescentar a nossa gloriosa civilização moderna. Ignorá-los é um grande erro.

    A medicina, a ciência, avançaram muito, mas muitos dos males que nos atingem são consequência direta da nossa tecnologia, ou seja, passamos a ser os grandes criadores das nossas próprias mazelas.

    Afinal, não existe magia. Magia é só algo que damos nome ao que ainda não entendemos e nesse campo ainda temos muito que aprender.

    Espero que tenha sido útil este comentário e gostaria muito de debater contigo sobre este assunto pois sou um aprendiz, e é só debatendo com quem tem ideias diferentes é que podemos estudar mais e obter miais respostas.

    Um grande abraço meu amigo!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tudo bom, André?

      Obrigado por escrever.

      Não sei se assistiu ao documentário, disponibilizado hoje. Não terminei de vê-lo, mas até agora confirmou minhas impressões iniciais.

      O problema que levanto é complexo, pois, como nota-se em muitas respostas que venho recebendo, envolve entre outras coisas crenças fortemente enraizadas em muitas pessoas.

      Acredito estar aberto a ouvir argumentos contra ou a favor de qualquer hipótese, e que mudar minha forma de pensamento, se eu achar que estiver errado, é benéfico. Porém, também acho que muitas pessoas preferem defender suas ideias e crenças (que acreditam serem benignas) a encarar a realidade (o que entendo que nem sempre seja fácil ou agradável).

      A mente humana é maravilhosa. Uma de suas habilidades que admiro é em estabelecer relações causais. Fazemos isso até inconscientemente. Porém, nossa mente e nossos sentidos também são limitados, e muitas vezes estabelecemos relações de causa e efeito que não são verdadeiras.

      Por exemplo, imagine alguém afirmar que, com o aumento de vendas de sorvetes, aumenta muito o número de afogamentos. Essa correlação pode ser observada e ser verdadeira, mas pode-se concluir que o consumo de sorvete é a causa de afogamentos? Obviamente seria uma conclusão errada, por não levar em conta outras variáveis como época do ano e temperatura, que podem aumentar tanto as vendas de sorvete quanto a prática de atividades aquáticas, estas sim que geram risco de afogamento.

      Em resumo, correlação não implica causalidade. Mas nosso instinto (e, como outros citaram, o "senso comum") frequentemente nos engana (e nos deixam sermos enganados, incluindo por outras pessoas).

      Para evitar conclusões erradas sobre a eficiência de medicamentos e terapias costumam ser feitos estudos comparativos usando grupos de tratamento e de controle, o primeiro recebendo o medicamento ou terapia sendo analisado, e o último recebendo nenhum tratamento ou placebo. Em geral estes estudos são do tipo duplo-cego.

      Os casos de cura que você disse ter observado (envolvendo tratamento convencional "auxiliado pelo tratamento espiritual") podem levar à conclusão de que o "tratamento espiritual" teve algum efeito na cura, mas não pode ser afirmado com certeza dado o tratamento convencional concomitante. Para haver certeza seria preciso ter o grupo controle e comparar os resultados em cada grupo.

      Porém, pesquisas desse tipo já foram feitas, e concluíram que medicinas alternativas, em alguns casos, aumentam muito o risco de morte (vide links no corpo da carta acima).

      Infelizmente o documentário incita as pessoas, em vários momentos, a buscarem tratamentos alternativos ao invés de tratamentos tradicionais. Não vejo problema em alguns tratamentos alternativos serem aplicados com tratamentos tradicionais (exceto quando a alternativa afete a eficiência de medicamentos e terapias tradicionais).

      Uma das táticas do documentário é praticamente culpar o doente, dizendo que seus pensamentos é que causam doenças (logo no início afirmam que câncer é causado por "emoções reprimidas"!). Em seguida, diz que a cura vem pela mudança no pensamento, o que é altamente atraente por lhe prometer controle total sobre sua saúde, sem medicamentos ou cirurgias (ou seja, sem possíveis efeitos colaterais ou outros riscos). E, claro, se você não melhorar, a culpa, novamente, é sua (e não da informação e tratamento que estão lhe passando). Isso os exime de qualquer culpa (ao menos em seu discurso).

      Você nunca se enganou ou foi vítima de algum golpe? Esse é um risco constante. Talvez questionar a veracidade do que nos é dito e "vendido" seja uma prática de vida saudável, até mesmo antes de optar por algum tipo de terapia.

      Excluir
    2. Oi Ricardo! Lindo texto meu amigo, obrigado por sua resposta tão elaborada.

      O caminho pra termos respostas efetivas sobre isso é ainda longo. Este último trecho que você relata sobre algumas doenças serem frutos de pensamentos nocivos é um assunto que pesquiso há algum tempo. Você já ouviu falar sobre a mudança de estado das moléculas da água em relação aos sons que as atingem?

      A matéria completa está no link a seguir;
      https://www.japaoemfoco.com/masaru-emoto-a-mensagem-da-agua/

      Bem, sabemos que o corpo humano é 70% formado de água, portanto com certeza há um efeito colateral no nosso organismo se submetido à cargas de stress, sons desagradáveis ou um ambiente hostil com muitos atritos interpessoais.

      Cientificamente ainda não soube de nenhuma pesquisa nesse sentido, mas vem de encontro com o que você relatou no documentário.

      O fato é que nosso cérebro físico sim, é limitado, mas nosso espírito tem uma capacidade imensurável. O nível de conexão entre o cérebro físico e nosso cérebro astral varia muito de pessoa a pessoa, mas é extremamente restrito e o propósito é esse mesmo, segundo a crença espírita, somos avatares aqui, passando por uma experiência material, com todos os sentidos tanto para obter o prazer como a dor.

      Dia-a-dia evoluímos. Aprendemos a ser solidários, a ajudar o próximo e a entender que tudo está conectado a uma energia só, desde um grão de areia no fundo do mar até as estrelas mais distantes, é uma rede de energia única, ou pode chamar de Deus, ou fluído universal, enfim, o nome não importa.

      Observar a magnitude de tudo isso e perceber que estamos limitados a um corpo físico, nada mais que isso, pra mim se tornou impossível. Sem crenças, nem misticismo, ao contrário, é a percepção que há uma ciência no lado espiritual tão avançada que jamais alcançaríamos sua noção com os limites materiais do nosso cérebro.

      Não fomos feitos pra isso, não foi programada essa condição pra essa existência material. Pode-se obter cura, ou não, isso não está apenas na nossa vontade ou na vontade dos médicos, é muito além disso e cada indivíduo vai passar pelo que tem que passar.

      Muitos vão se curar pela fé e vão se tornar propagadores dessa fé. Outros não terão essa "bênção", porque seu destino era padecer deste mal. Nunca saberemos é é assim que tem que ser.

      E porque digo tudo isso? Porque não temos o controle. Não está em nossas mãos. Todos vamos partir e cada um tem o seu propósito e seu karma.

      Você me perguntou se eu já fui vítima de algum golpe. O primeiro requisito pra quem pratica qualquer tipo de cura pelos meios espirituais é a caridade pura, o seja, jamais cobrar por isso, porque isso não é um dom, ao contrário, é uma dívida com seu passado e a pessoa evolui praticando o bem em prol de seu próximo.

      Todos os locais que frequentei e frequento, estão alinhados com essa premissa.

      Nossa alma não é daqui. Nossa alma é do universo. Viemos de lá, nossa casa é lá. Aqui é uma prova, um meio de evoluir sendo privados da nossa inteligência astral, do corpo astral.


      Não cheguei a me aprofundar sobre as questões científicas, as estatísticas e experimentos porque cai naquilo que eu falei, karma. Se não é pra pessoa se curar, não vai ter alternativa nem na medicina e nem no espiritismo, é a prova dela, apenas isso. O mesmo ocorre na cura. Às vezes a pessoa alcança uma cura espiritual pra quebrar paradigmas de pessoas próximas, o real propósito é muito mais complexo do que a gente imagina.

      Por isso digo a você meu caro amigo, deixe as coisas seguirem seu curso, ou não, tens o livre arbítrio de decidir, porque pra tudo há um propósito e estamos longe de descobri-los em detalhes. O que eu sei é que lutamos pra ser uma pessoa melhor a cada dia e é muito difícil lidar com os sentimentos nocivos que nos é inerente. Mas tentamos e posso dizer que dei alguns passos à frente, graças à Deus, ou ao universo, ou a essa energia que nos cerca e nos invade.

      É sempre um grande prazer conversar contigo meu velho amigo. Obrigado pela oportunidade!

      Excluir
    3. Oi, André!

      Infelizmente muitos dos comentários por aqui estão divagando um pouco. O artigo que publiquei é sobre um documentário específico, disponível na Netflix. Aliás, recomendo a resenha "Heal" na Netflix: crueldade disfarçada de autoajuda, da Revista Questão de Ciência, cuja opinião compartilho.

      Respondendo aos pontos que você levantou, as hipóteses de Masaru Emoto são consideradas não científicas, comprovadamente erradas e repletas de erros metodológicos e manipulações.

      Desculpe, mas fé não cura, e a propagação dessa ideia tem um impacto negativo na saúde pública. Aliás, lembro de um caso às avessas: o bebê de uma jovem mãe estava com febre, e recomendei levá-lo a um hospital o quanto antes. Ao invés disso, ela o levou a uma benzedeira. Para minha surpresa, alívio e alegria, a benzedeira teria dito: "Este menino não precisa ser benzido, precisa de antibiótico!" :)

      Ao contrário do que você escreveu (que "não temos o controle"), temos a capacidade de buscar tratamentos para nossos males - mas fazer a escolha certa depende de informações objetivas e verdadeiras (e não de "karma"). Um documentário como esse certamente influencia muitas pessoas a não buscarem tratamentos efetivos. Como eu disse antes, já vi isso acontecer, e é trágico. Mas não acredite em mim, veja as pesquisas (novamente, vide links no artigo).

      Quando perguntei se sofreu algum golpe, não me limitei a assuntos de "cura espiritual". Mas aproveitando o gancho, João de Deus aparece muito rapidamente no documentário. Acho melhor nem comentar mais sobre isso...

      "Não cheguei a me aprofundar sobre as questões científicas, as estatísticas e experimentos porque cai naquilo que eu falei, karma." - Aqui eu perdi a karma! :D Por um lado você implica não acreditar em livre arbítrio ("vai passar pelo que tem que passar", "destino", "não temos o controle", ...), e depois afirma que temos (ou seria só eu?) "o livre arbítrio de decidir"? Acho esse tipo de pensamento altamente nocivo. Se você acredita tanto em destino (e não em livre arbítrio), uma das consequências é que não há crime a ser punido, por mais hediondo que seja. Aliás, também não há como seu espírito "evoluir", visto que você não tem opção de escolha (fará o que for pré-determinado).

      Se acredita em livre arbítrio, como pode tomar decisões sem se informar? E se você sabe que existem mentiras e abuso da boa fé das pessoas (vide João de Deus), como permite que esse tipo de coisa ocorra, sabendo que é prejudicial (potencialmente a você mesmo e aos outros)?

      Enfim, embora você negue, tudo o que disse soa como crença e "misticismo". Isso cai mais na área de opinião do que fato, e realmente fora do âmbito científico. Como você disse, você pode escolher no que acreditar - eu prefiro questionar, pesquisar e testar antes de acreditar em algo.

      Excluir
  10. Minha opniao, eu sempre acreditei no poder da mente por esse motivo sempre sou positivo, quanto a esse documentario nao vejo como desinformaçao pois documentario é sempre ponto de vista vc concorda com ele ou nao e a netflix nao é canal de noticias para comparar como ato desinformativo e outra tambem nao é canal aberto ou seja se ve aquilo que quer ninguem obriga ninguem a ver, tem muita coisa que nao concordo que esta na netflix e nem porisso vou proibir alguem de ver, acho valido como alerta mas proibir eu que vivi na epoca do militarismo no Brasil sem muito bem o que é censura e outra vc pode sim com confiança superar obstaculos, tem um filme no amazon prime SEXY POR ACIDENTE que mostra de forma folclorica logico mas como vc acreditar pode te mudar e nao vejo com bons olhos querer censurar o que te contraria mesmo que vc esteja passando por problemas medicos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato pelos comentários, Elias.

      Felizmente não estou passando por nenhum problema médico.

      Também sou contra a censura. Você, que acompanha este blog há tempos, deve saber que também sempre defendi a pluralidade do conteúdo oferecido quando alguém demonstrava insatisfação sobre alguma categoria e pedia sua retirada.

      Não foi uma decisão fácil escrever esta carta. Eu sinceramente acredito que informação deva ser acessível a todos. E, assim como você, acredito que a mente humana tem muito poder... mas esse poder pode ser manipulado por mentiras, levando a resultados terríveis, desde crimes de ódio até a morte.

      Não sou contra documentários sobre "o poder da mente", mas se seguir os links que usei para complementar meus argumentos, verá que este documentário pode afetar negativamente a saúde e a vida de muitas pessoas.

      Isso é um fato. Há inúmeros casos de pessoas com tumores detectados em estágio inicial, passíveis de cirurgia ou tratamento, que optam por "medicinas alternativas" (chás, homeopatia, Reiki e outros), resultando em desenvolvimento e complicações da doença, às vezes ao ponto de não haver mais cura.

      Não há pornografia na Netflix, assim como não há conteúdo que promova o ódio (como racismo e homofobia). A Netflix já seleciona o que disponibiliza em seu catálogo, e até hoje não vi ninguém reclamando disso. Se conteúdo que promove o ódio deve ser combatido (e eu acredito nisso), por que não combater o conteúdo que prejudica a saúde das pessoas?

      Excluir
  11. Caro Ricardo, qualquer coisa que cure o câncer que esteja fora da indústria mundial bilionária, SEMPRE, será carente de comprovação científica.

    ResponderExcluir
  12. Recomendo esta resenha do documentário "Heal - O Poder da Mente", feita pelo jornalista Carlos Orsi, no Questão de Ciência. Se eu fosse escrever uma resenha, seria muito parecida.

    ResponderExcluir
  13. Não assisti ao documentário, mas já sei qual será a linha de pensamento: vão mostrar alguns casos de pessoas sofrendo alguma doença e mostrarão como essas técnicas pseucientíficas supostamente ajudaram na cura. Claro que não vão mostrar as centenas de pessoas que morrem nesses casos.

    Acho interessante que sempre que há alguma postagem contra essas atividades pseudocientíficas, os adeptos dessas práticas acusam que as empresas farmacêuticas estão por trás disso e por aí vai. Usando um argumento parecido, será que não existe uma grande indústria de medicina alternativa, que paga milhões para tentar criar a ideia que tais práticas, ainda que sem qualquer comprovação, têm alguma influência na cura de inúmeras doenças? Alguém já parou para pensar quanto $ circula nesses meios? Já pensaram por que inúmeros artistas posam tirando fotos com médiuns?

    ResponderExcluir
  14. Pelo que li na resenha do Carlos Orsi, o "documentário" sequer apresenta exemplos de pessoas que foram curadas pela mente. Dois dos três personagens principais não são curados, e uma, que foi curada do câncer, passou por quimio e radioterapia, ou seja, foi curada pela ciência. Texto importante e que seja divulgado e espalhado por aí. Parabéns pelo seu trabalho!

    ResponderExcluir
  15. Olá, Ricardo e todos. Ainda não tive a oportunidade de assistir o documentário, mas está na minha lista. Espero ver em breve. Concordo com você em muitos pontos. Acho muito complicado (até criminoso) essa abordagem na qual "o poder da mente cura tudo". Trabalho com indústria farmacêutica há quase 10 anos, obviamente há muita coisa envolvida - lucro, lobby, interesses pessoais etc - mas também há muita coisa séria, investimentos milionários, pesquisas que duram décadas.

    Conheço muitos médicos e e instituições sérias que preferem adotar o termo "medicina integrativa" ao "alternativa", com a justificativa que essas práticas não substituem a medicina convencional, mas de fato podem trazer muitos benefícios para pacientes com doenças crônicas ou traumas. Ou seja, aqui aliamos o melhor dos dois lados; equilíbrio; o médico segue com o tratamento convencional, aquele comprovado cientificamente (que tem efeitos colaterais, sim; que nem sempre funciona, mas que em geral é a melhor opção); e o paciente, com seu guia espiritual/xamã/mentor etc realiza outros acompanhamentos. Acho uma abordagem muito interessante e, hoje, está muito alinhado com o que eu pessoalmente acredito (racionalmente e emocionalmente).

    Parabéns pelo trabalho e por abordar o assunto. Informação é fundamental. Dá trabalho educar, discutir, mostrar nosso ponto de vista e entender o do outro (e às vezes é um saco rs), mas aprendi coisas interessantes com seu texto e com os comentários. Assim seguimos.

    ResponderExcluir
  16. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grato pelo comentário, Leo.

      Recomendaria ler o texto com calma e ver os links fornecidos. Fique à vontade para responder com [Caps-Lock] ligado ou desligado, mas quando ligado o texto não "soa" muito bem.

      Ao contrário do que você citou, o documentário em questão claramente não busca entreter, mas justamente abusar da boa fé de pessoas em situação de desespero, além de disseminar desinformação que pode causar sérios danos à saúde dessas e de outras pessoas.

      Muita gente não tem boa capacidade de discernimento, vide o uso de MMS ("Suplemento Mineral Milagroso"), que promete até cura de autismo. Quem prefere pode assistir ao artigo que saiu no Fantástico (ou um resumo do mesmo, pelo Drauzio Varella). Após ver o vídeo, não creio que você possa defender que todas as pessoas tenham discernimento.

      Você acha que podemos deixar qualquer um promulgar o uso e vender MMS, colocando em risco a saúde e vida das pessoas?

      Charlatanismo só é bom pra quem é charlatão. Esperança você consegue de inúmeras outras formas.

      Porém, tenho repensado quanto a remoção do documentário. Talvez fosse melhor fazer o mesmo que é feito com os cigarros, e colocar um "alerta" tanto no início quanto durante qualquer vídeo que promova pseudociência. Seria uma forma de combater a desinformação sem "censurar" uma obra completamente. Infelizmente isso exigiria legislação específica, e não seria simples de ser implementado (sem falar nos custos). Porém, poderia ser melhor / mais eficiente do que simplesmente dificultar o acesso a esse tipo de material.

      Excluir
  17. A Netflix exibiu Democracia em vertigem. Uma mentira petista. Por que nao exibiria esse?

    ResponderExcluir

Reservo o direito de não publicar ou remover comentários ofensivos ou irrelevantes.

Ao invés de perguntar quando chega um novo filme ou temporada de série, consulte a última lista de futuros lançamentos.